Ana Bueno, entre outras coisas, é cozinheira – no início, por necessidade. Sabe as receitas caiçaras tradicionais? Ela as revisitou e, hoje, é autora de uma coleção delas!
Aos 17 anos, Ana deixou São José dos Campos (SP), para morar em Trindade (RJ), na praia do Cachadaço. Cenário? Final dos anos 1980. Natureza intocada. Nada de luz elétrica. Na bagagem, memórias da comida caipira do interior paulista que aprendeu na garra. Logo passou a vender, na praia, tortas, sanduíches e bolos batidos à mão, assados em um fogão sem forno, na base do improviso, com tabuleiros e assados no sopro para que a brasa não queimasse a massa…

Imagine o que foi, num dia, um amigo improvisar uma batedeirinha com um molinete de pesca? Sabe economia criativa? Então. No início da carreira, a horta de Ana garantia os pescados e os frutos do mar – trocas com pescadores locais. O que parecia brincadeira ou rebeldia juvenil engrossou o caldo de saberes.
Dois anos depois de Trindade, Paraty convidava e ampliava os horizontes de Ana, que virou repórter de televisão (Eco TV, uma repetidora da TV Educativa). Ao entrevistar Casé, um jovem paratiense que, na época tinha uma plantação de maracujá, a fruta da paixão dos franceses, Ana jamais poderia supor que seria ele o agente de tantas mudanças em sua vida. Casé se tornou pai dos seus três filhos: Hugo, Elias e Abel; e é responsável pela história célebre de Ana na cozinha regional.
No tempo do namoro, veio o convite para ajudar a tocar um restaurante de comida caseira e regional que os pais dele haviam idealizado montado na casa da família – o mesmo casarão onde funciona até hoje o Banana da Terra. Todo mundo junto, bons planos, novos voos. Ana se orgulha de ter elaborado aquele primeiro cardápio escrito à mão. E de ter testado os primeiros pratos. Nascia em Paraty o Banana da Terra, oficialmente, em 1992.

Ana desabrochou na cozinha. Passou a fazer cursos, buscou conhecer outros cozinheiros, aguçou os sentidos, se aprimorou. Ao longo do tempo, a casa passou por duas reformas às quais ela agregou um pouco de tudo o que havia aprendido.
Em 2012, foi lançado na rua, bem à moda paratiense, seu livro Culinária Caiçara – o sabor entre a serra e o mar (Editora Dialeto Latin American Documentary), o primeiro registro dessa cultura alimentar feito no país.
Lidera, desde 2014, a Escola de Comer, um projeto de requalificação da merenda escolar das escolas públicas de Paraty – assunto que a empolga e reforça seu brilho no olhar.

Empresária de visão e chef exigente, sua cozinha surpreende pelo cardápio de excelência e prima pela atualização de equipamentos, funcionando em uma estrutura física rara, até mesmo em conceituados restaurantes do Brasil.
Focada na gastronomia criativa e contemporânea, mas sempre ancorada nas fortes raízes da tradição caiçara, Ana Bueno não perde a doçura nem o tempero ao ampliar fronteiras. Não para. Além da cozinha do Banana da Terra, comanda o seu bufê.
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